sexta-feira, agosto 28, 2009

Sentimentos solidários e argumentos precários


Entrar no metro de São Paulo é uma ação um tanto filosófica. Desde criança eu tenho curiosidade para saber onde as pessoas caminham, para onde elas irão, o que elas irão fazer. E ao entrar em casa, como será a casa delas, será que tem filhos, será que são casadas.
Quando criança, em muitos momentos, eu me peguei olhando para o rosto das pessoas tentando adivinhar o que elas iriam fazer minutos após ali. Graças a Deus eu era uma criança bonitinha, então geralmente a atitude ao contrário era um sorriso. Quando fiquei adulta comecei a me policiar porque estas coisas são complicadas, as pessoas acham que você as está encarando. Transforma-se em um problema.
Enxergar o outro é bem mais fácil do que enxergar a si mesmo, está é a verdade. Por mais estranho, e diferente que o outro possa ser. Realizar uma leitura do outro, é mais fácil do que realizar uma leitura de si próprio. Algumas vertentes acreditam que na tentativa de ler o outro, estamos nos analisando, principalmente quando a leitura é recheada de criticas.
Nos discursos inflamados daqueles que sabem o que querem, a gente vê uma certeza e uma forma forte de se retratar. Não sabemos se é mentirosa, ou se é verdadeira. Muitas pessoas bem sucedidas acabam se sentindo sozinhas e perdendo o eixo, ou a engrenagem, talvez a ignorância em alguns pontos se transforme em um alivio ou talvez saibam tanto de si que se tornaram maçantes para si mesmas. Talvez se conhecer demais desperte a intolerância a si mesmo, talvez esteja novamente fazendo uma leitura do outro, tentando me ler, mas, talvez também seja verdade que a ignorância também possa ser algo muito importante na vida, e que não deva ser desprezada.
Em um mundo onde não há tempo nem oportunidade para se enxergar, sentimentos solidários de compaixão e auxilio tem me acompanhado nesta observação das pessoas na rua. Vejo muitas se ajudarem, ajudar um velhinho, ajudar uma senhora, ajudar um deficiente físico, a cada momento por incrível que pareça no corre-corre do metro superlotado, a gente é testemunha de muita grosseria, mas, também de muitas ações que mereciam uma foto. Atitudes solidárias que ficam poéticas nestes dias cinzentos.
É bonito, mas, também é uma leitura do outro. Não porque não passou nenhum velhinho do meu lado, ou porque não tive a “sorte” de encontrar um deficiente, mas, continua sendo uma leitura do outro. Ler a gente é difícil demais, acho que somos feitos de códigos indecifráveis (argumento precário), ou porque sei lá não fomos feitos para ser lidos, nem entendidos. Mas como definir os próximos passos se não possuímos manual de instruções? É as pessoas também fazem leituras de nós, mas, seguem paradigmas, receitas de bolo prontas, textos pré-moldados e montados, baseados na idade e naquilo que a maioria faz da sua vida. Eu leio você e você me lê, mas, não conte a franqueza não faz parte destas leituras.
Por fim, acredito que mesmo tentando ainda não consegui transpor no texto o que está me angustiando, mas, talvez nada me angustie, sendo que a gente faz escolhas e estas escolhas estão pautadas nesta leitura torta que fazemos de nós mesmos.
O mundo está aqui em nossas mãos e talvez não devamos nunca deixar de enxergar e ler o outro porque está leitura é baseada em sentimentos e sentimentos de solidariedade. Porque é lendo o outro e suas necessidades que tentamos modificar este mundo, porém, nunca podemos deixar de tentar mesmo que na dificuldade de nossa miopia congênita de ler a nós mesmos, entender o que queremos e jogarmos tudo para o alto quando for a hora, ou não fazermos nada se esta decisão for a mais feliz, porque talvez tenhamos pouco tempo para fazer aquilo ou não fazer nada, atitudes que talvez para nós seja mais do que essencial, vire vital!